terça-feira, dezembro 30, 2003




sexta-feira, dezembro 26, 2003

"A fool thinks himself to be wise, but a wise man knows himself to be a fool."
- William Shakespeare

"I am, indeed, a king, because I know how to rule myself."
- Pietro Aretino

O INFINITO

Sempre cara me foi esta erma altura
Com esta sebe que por tanta parte
Do último horizonte a visão exclui.
Sentado aqui, e olhando, intermináveis
Espaços para além, e sobre-humanos
Silêncios, e profunda quietude,
Eu no pensar evoco; onde por pouco
O coração não treme. E como o vento
Ouço gemer nas ervas, eu àquele
Infinito silêncio esta voz
Vou comparando: e sobrevem-me o eterno,
E as idades já mortas, e a presente
E viva, e seu ruído... Assim, por esta
Imensidade a minha ideia desce:
E o naufragar me é doce neste mar.
- Giacomo Leopardi

terça-feira, dezembro 23, 2003




LVI

Sweet love, renew thy force; be it not said
Thy edge should blunter be than appetite,
Which but to-day by feeding is allay'd,
To-morrow sharpened in his former might:
So, love, be thou, although to-day thou fill
Thy hungry eyes, even till they wink with fulness,
To-morrow see again, and do not kill
The spirit of love, with a perpetual dulness.
Let this sad interim like the ocean be
Which parts the shore, where two contracted new
Come daily to the banks, that when they see
Return of love, more blest may be the view;
As call it winter, which being full of care,
Makes summer's welcome, thrice more wished, more rare.
- Shakespeare




LII

So am I as the rich, whose blessed key,
Can bring him to his sweet up-locked treasure,
The which he will not every hour survey,
For blunting the fine point of seldom pleasure.
Therefore are feasts so solemn and so rare,
Since, seldom coming in the long year set,
Like stones of worth they thinly placed are,
Or captain jewels in the carcanet.
So is the time that keeps you as my chest,
Or as the wardrobe which the robe doth hide,
To make some special instant special-blest,
By new unfolding his imprison'd pride.
Blessed are you whose worthiness gives scope,
Being had, to triumph; being lacked, to hope.
- Shakespeare

LI

Thus can my love excuse the slow offence
Of my dull bearer when from thee I speed:
From where thou art why should I haste me thence?
Till I return, of posting is no need.
O! what excuse will my poor beast then find,
When swift extremity can seem but slow?
Then should I spur, though mounted on the wind,
In winged speed no motion shall I know,
Then can no horse with my desire keep pace.
Therefore desire, (of perfect'st love being made)
Shall neigh, no dull flesh, in his fiery race;
But love, for love, thus shall excuse my jade-
Since from thee going, he went wilful-slow,
Towards thee I'll run, and give him leave to go.
- Shakespeare

FELIZ NATAL!

VOTOS DE AMOR, PAZ E HARMONIA

*
XX
XXX
XXXX
XXXXX
XXXXXXX
XXXXXXXXX
XX
XX

INEFÁVEL

Nada há que me domine e que me vença
Quando a minha alma mudamente acorda...
Ela rebenta em flor, ela transborda
Nos alvoroços da emoção imensa.
Sou como um Réu de celestial Setença,
Condenado do Amor, que se recorda
Do Amor e sempre no Silêncio borda
De estrelas todo o céu em que erra e pensa.
Claros, meus olhos tornam-se mais claros
E tudo vejo dos encantos raros
E de outras mais serenas madrugadas!
Todas as vozes que procuro e chamo
Ouço-as dentro de mim porque eu as amo
Na minha alma volteando arrebatadas

Luzes claras e augustas, luzes claras
Douram dos templos as sagradas aras,
Na comunhão das níveas hóstias frias...
Quando seios pubentes estremecem,
Silfos de sonhos de volúpia crescem,
Ondulantes, em formas alvadas... "
- João da Cruz e Sousa

A ADIVINHA
- Mia Couto

Tudo é um jogo, brincriável. Há o bomem, isso é facto. Custa é haver o humano. A vida descostura, o homem passa a linha, a corrigir os panos do tempo. Mimirosa, a menina, nada sabia desses acertos. Acreditava ser tudo simples como o molhado e água, poeira e chão. E assim, tudo em tamanho não aparado: os senhores em infância, as coisas sem consequência.

Seus pais se preocupavam. Passava a idade e Mimirosa demorava a aprender o regime da realidade. Que há deveres, e as contas do ter e do haver. E o ser é apenas o que resta. Noves fora, novos de fora.

Quem estragava esse madurecimento da miúda era sua avó, Ermelinda. A senhora se convertera em parceira de infância, ancorada em irresponsabilidade. Em meia palavra: era companhia de se evitar. Os pais de Mimirosa assim julgavam. A menina devia era evitar os risos, disciplinar arrebatamentos. A escola, em primeiro lugar. A avó, sabia-se, desprezava a escola. Que se aprende mais é fora dela, no calor da família, em redondezas de carinho. Mimirosa estava, por isso, proibida de frequentar a companhia de Ermelinda. Não queriam nem que fosse vista junto, perto do caminho da avó. A menina era conduzida, de mão acompanhada, até às imediações escolares, onde já não poderia desviar a direcção. Imaginava-se. Porque ela, mal se soltava das vistas, se internava no atalhozito que dava na casa da avó. Ali gazetava dos deveres, entretida nos nenhuns afazeres da velha senhora. Conforme os olhos distraídos da velha ela ajudava, rectificando um aqui no além ela. Até que, inevitável, chegava o jogo da adivinhação.

- Qual é um rio que não tem senão uma margem?

- Isso é coisa que não pode, avó! E do outro lado fica o quê?

- Pense, se ensine. Já sabe que o prémio que há-de haver...

Prémio que haveria era só o serem as duas, ali, no escondido. A velha deixava o mistério durar, pairada, parada. A pergunta labirintava na cabeça de Mimirosa. Podia um rio assim? Ou já se viu a estrada correr sem o amparo de duas ambas bermas?

- Mas há o prémio de verdade?

- Se você‚ adivinhar esse mistério, o mundo vai ficar tão admirado que até o tempo há-de parar.

- Jure, avozinha?, berlindavam-se os olhos dela.

E voltavam às lides, sem obrigação de nada. O jardim da casa parecia obra de inventar. Uma só arbustozinho nele cabia.

- Vês a sombra? Essa sombra é pequena. Mas existe uma sombra que é da terra toda inteira.

Voltada a casa, a menina era inquirida pelos pais, perguntas sem mistério, coisas de calcular o futuro: quando fores grande já escolheste o que vais ser? Simplesmente, ela não sabia querer ser grande. E, assim, sua ausência na resposta.

- Ela vai ser doutora hospitalar, vaticinava a mãe.

- Ou dessas que faz as contas e faz crescer dinheiro, preferia o pai.

- Tudo serás filha, mas não queremos que sejas como nós.

A menina se admirava: aqueles não gostavam de si mesmos? Por que razão eles queriam que ela lhes fosse diferente? Só a avó gostava de ser como era, cuidadosamente desarrumadinha. Como deviam ser infelizes, aqueles dois, seus pais.

Até que, urna tarde, veio o alvoroço. A velha Ermelinda se sentira mal, o peito dela se amarrotara. Mimirosa, nesses dias, deixou a escola. Mas não a deixaram entrar na velha casinha. A senhora não reconhecia ninguém, ela se convertera em fundo escuro. Nenhuma luz a trazia à superfície de si mesma. E, assim, somaram-se os dias. Mimirosa, obrigada e vigiada, voltou escola. A sombra do morcego se desenha no tecto? Pois o pensamento da neta n o saía do mesmo assunto: saudade de sua avó.

Um dia, enquanto seu olhar fingia percorrer o caderninho, a menina suspulou da carteira e se flechou porta afora. Escapou da escola e correu pelos campos. Ninguém a viu penetrar na penumbra da casa, ninguém suspeitava que se anichara, ofegante, na cabeceira da moribunda avó.

- Avó, sei a adivinha!

No rosto da senhora nenhum sinal, nem uma ruga se alterou. Parecia que Ermelinda já cruzara aquele risco feito na água, fronteira entre a vida e a morte.

- Lembra a adivinha, vó? Aquela do rio de um lado só?

E os olhos da menina se atabalhoaram de água, sentida sozinha no grande mundo. A mão dela ainda arriscou tocar no braço da avó. Mas teve medo. E se cborou! O caderninho órfão, em suas mãos, sofria a catarata das lágrimas. Até que os braços do pai a puxaram. Primeiro ela cedeu. Mas depois esgueirou-se, por um instante, e depositou o caderninho escolar no leito da água. Estava aberto numa figurinha do oceano, mais suas criaturas profundas. E a voz da menina tombada com um derradeiro lenço:

- É o mar, avó. Esse cujo rio; é o mar.

Já se retiravam daquele luto, todos mais Mimirosa quando os dedos da avó tactearam o ar e, cegos, chegaram até no caderno. Depois, acariciaram o azul da imagem. E caderno começou a pingar, como se o papel não mais contivesse aquela água.

sábado, dezembro 20, 2003

Trading Firms Accuse(d) UN Of Purposely
Depressing Iraqi Oil Sales


Major trading firms that lift Iraqi crude are accusing the UN sanctions committee and the overseers of purposely adopting practices that minimize Iraqi oil sales, according to MEES soundings. Traders allege that the UN is not only delaying the approval of price formulas beyond reasonable periods but is also being inflexible to a degree that has made Iraqi oil prices uncompetitive with similar grade crudes.

"Assim falou Zaratustra"

" Retribui-se mal a um mestre, quando se permanece sempre um discí­pulo"

DO ALTO DOS MONTES

Oh! Meio dia da vida! Época solene!
Oh! jardim de estio!
Beatitude inquieta da ansiedade na espera:
espero meus amigos, noite e dia,
onde estais, amigos meus?
Vinde! É tempo, é tempo!

Nã0 é por vós que o gelo cinzento
hoje se adorna com rosas?
A vós procura o rio,
Suspensos nos céus ventos e nuvens se alevantam
para observar vossa chegada
competindo com o mais sublime vôo dos pássaros.

No meu santuário coloquei a mesa:
Quem vive mais próximo das estrelas
e das horríveis profundezas do abismo?
Que reino mais extenso que o meu?
E do mel, daquele que é meu, que sentiu seu fino aroma?

Aqui estais, finalmente, meus amigos!
Ai! não é a mim que procurais?
Hesitais, mostrais surpresa?
Insultai-me é melhor! Eu não sou mais eu?
Mudei de mão, de rosto, de andar?
O que eu era, amigos, acaso não mais sou?

Tornei-me, talvez, outro?
Estranho a mim mesmo? De mim mesmo, fugido?
Lutador que muitas vezes venceu a si mesmo?
Que muitas vezes lutou contra a própria força,
ferido, paralisado pelas vitórias contra si mesmo?

Porventura não procurei os mais ásperos ventos
e aprendi a viver onde ninguém habita,
nos desertos onde impera o urso polar?
Não esqueci a Deus e ao homem, blasfêmias e orações?
Tornei-me um fantasma das geleiras.

Oh! meus velhos amigos, vossos rostos
empalidecem de imediato,
transtornados de ternura e espanto!
Andai, sem rancor! Não podeis demorar aqui!
Não é para vós este pais de geleiras e rochas!
Aqui é preciso ser caçador e antílope!

Converti-me em caçador cruel. Vede meu arco:
a tensão de sua corda!
Apenas o mais forte poderá arremessar tal dardo.
Mas não há nenhuma seta mortal como esta.
Afastai-vos, se tendes amor à vossa vida!

Fugis de mim!? Oh, coração, quanto sofreste!
E entretanto, tua esperança ainda se mantém firme!
Abre tuas portas a novos amigos,
renuncia aos antigos e às lembranças!
Fostes jovem? - Pois agora és mais e com mais brio.

Quem pode decifrar os signos apagados,
do laço que une com u'a mesma esperança?
Signos que em outros tempos escreveu o amor,
que luzem como velho pergaminho queimado
que se teme tocar, como ele. Queimado e enegrecido!

Basta de amigos! Como chamá-los?
Fantasmas de amigos! Que de noite,
tentam ainda meu coração e minha janela
e me olham sussurrando:
"Somos nós"!
Oh! Ressequidas palavras, um dia fragrantes como rosas!

Sonhos juvenis tão cheios de ilusão,
aos quais buscava no impulso de minh'alma,
agora os vejo envelhecidos!
Apenas os que sabem mudar são os de minha linhagem.

Oh! Meio dia da vida! Oh! segunda juventude!
Oh! jardim de estio!
Beatitude inquieta na ansiedade da espera!
Os amigos esperam, dia e noite, os novos amigos.
Vinde! É tempo! É tempo!

O hino antigo cessou de soar,
O doce grito do desejo expira em meus lábios.
Na hora fatídica apareceu um encantador,
o amigo do pleno meio-dia.
Não, não me pergunteis quem é;
ao meio-dia, o que era um,
dividiu-se em dois.

Celebremos, seguros de u'a mesma vitória,
a festa das festas!
Zaratustra está alai, o amigo,
o hóspede dos hóspedes!
O mundo ri, o odioso véu cai,
E eis que a luz se casa Com a misteriosa,
subjugadora Noite.

- Friederich Wilhelm Nietzsche

Cântico

Mundo à nossa medida
Redondo como os olhos,
E como eles, também,
A receber de fora
A luz e a sombra, consoante a hora

Mundo apenas pretexto
Doutros mundos.
Base de onde levanta
A inquietação,
Cansada da uniforme rotação
Do dia a dia.
Mundo que a fantasia
Desfigura
A vê-lo cada vez de mais altura.

Mundo do mesmo barro
De que somos feitos.
Carne da nossa carne
Apodrecida.
Mundo que o tempo gasta e arrefece,
Mas o único jardim que se conhece
Onde floresce a vida.

- MIGUEL TORGA

'Humanidade'

Aquele que, nos seus mais tenros anos,
Algo de novo encontra que de amor o rende,
Alta esperança cria, e voa firme
Nas viris asas de sentir-se um homem:
Mais que riquezas são seus pensamentos.
Mas o deleite humano cresce um breve tempo,
E no chão tomba quão depressa o arranca
Um fatal pensamento que às raízes torce.

É um dia, um dia só, a vida humana. O Homem
O que é? O que não é?
Sombra num sonho É o Homem.
Mas se o deus nos ilumina
Na terra brilha a vida
E é doce como o mel.
Egina, augusta mãe,
Protege esta cidade na viagem
A que se apresta em busca de ser livre:
E Zeus contigo, e Eacos,
Peleus, o nobre Télamon, e Aquiles.
- Píndaro, FINAL DA OITAVA ODE PÍTICA

segunda-feira, dezembro 01, 2003

Sentence of the Inquisition Against Galileo

22 June, 1633

"It being the case that thou, Galileo, son of the late Vincenzio Galilei, a Florentine, now aged 70, wast denounced in this Holy Office in 1615:
"That thou heldest as true the false doctrine taught by many, that the Sun was the centre of the universe and immoveable, and that the Earth moved, and had also a diurnal motion: That on this same matter thou didst hold a correspondence with certain German mathematicians....

"That the Sun is the centre of the universe and doth not move from his place is a proposition absurd and false in philosophy, and formerly heretical; being expressly contrary to Holy Writ: That the Earth is not the centre of the universe nor immoveable, but that it moves, even with a diurnal motion, is likewise a proposition absurd and false in philosophy, and considered in theology ad minus erroneous in faith.....

"Invoking then the Most Holy Name of Our Lord Jesus Christ, and of His most glorious Mother Mary, ever Virgin, for this Our definite sentence, the which sitting pro tribunali, by the counsel and opinion of the Reverent Masters of theology and doctors of both laws, Our Counsellors, we present in these writings, in the cause and causes currently before Us, between the magnificent Carlo Sinceri, doctor of both laws, procurator fiscal of this Holy Office on the one part, and thou Galileo Galilei, guilty, here present, confessed and judged, on the other part:

"We say, pronounce, sentence, and declare, that thou, the said Galileo, by the things deduced during this trial, and by thee confessed as above, hast rendered thyself vehemently suspected of heresy by this Holy Office, that is, of having believed and held a doctrine which is false, and contrary to the Holy Scriptures, to wit: that the Sun is the centre of the universe, and that it does not move from east to west, and that the Earth moves and is not the centre of the universe: and that an opinion may be held and defended as probable after having been declared and defined as contrary to Holy Scripture; and in consequence thou hast incurred all the censures and penalties of the Sacred Canons, and other Decrees both general and particular, against such offenders imposed and promulgated. From the which We are content that thou shouldst be absolved, if, first of all, with a sincere heart and unfeigned faith, thou dost before Us abjure, curse, and detest the above-mentioned errors and heresies and any other error and heresy contrary to the Catholic and Apostolic Roman Church, after the manner that We shall require of thee.

"And to the end that this thy grave error and transgression remain not entirely unpunished, and that thou mayst be more cautious in the future, and an example to others to abstain from and avoid similar offences,

"We order that by a public edict the book of DIALOGUES OF GALILEO GALILEI be prohibited, and We condemn thee to the prison of this Holy Office during Our will and pleasure; and as a salutary penance We enjoin on thee that for the space of three years thou shalt recite once a week the Seven Penitential Psalms, reserving to Ourselves the faculty of moderating, changing, or taking from, all other or part of the above-mentioned pains and penalties.

"And thus We say, pronounce, declare, order, condemn, and reserve in this and in any other better way and form which by right We can and ought.

Ita pronunciamus nos Cardinalis infrascripti.

F. Cardinalis de Asculo.
G. Cardinalis Bentivolius
D. Cardinalis de Cremona.
A. Cardinalis S. Honuphri.
B. Cardinalis Gypsius.
F. Cardinalis Verospius.
M. Cardinalis Ginettus.